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Textos de apresentação

Pedro Stephan é pioneiro na fotografia etnográfico-poética urbana brasileira de acento ativista. Nesta exposição, seu mais recente trabalho, faz o mapeamento geopolítico dos espaços de socialização GLS no Rio de Janeiro. Seu olhar entretanto denuncia que o que lhe interessa aqui não é apenas o - já em si importante - levantamento dos pontos de encontro e socialização da comunidade homossexual carioca. Pedro vai mais longe.

O que vê e nos leva a ver através da delicadeza de sua câmera e de sua poesia são, na realidade, a textura densa dos contextos destes encontros entre amigos e amores do subúrbio à zona sul. São os subtextos da diversidade e da riqueza dos espaços de encontro GLS populares, ricos, jovens, idosos. Entramos em casas noturnas, bares, boates e clubes. Viajamos pela Lapa, Copacabana, Ipanema, Rocinha, esquinas, recantos, interiores.

São ao todo 100 fotos nas quais Pedro Stephan reafirma definitivamente sua enorme sensibilidade fotográfica, seu compromisso com a causa homossexual e seu obstinado desejo de nos oferecer um mundo melhor e mais justo.

Heloisa Buarque / 2007

 

Presentation texts

Pedro Stephan is a pioneer in the Brazilian ethnographic and poetic urban photography, with gay activist accent. In this exhibition, his latest work, does the geopolitical map of the areas of socialization GLS in Rio de Janeiro. His look betrays however that what interests him here is not only - in itself important - survey of meeting places and socialization of the gay community in Rio. Peter goes further.

What he see and makes us see through the delicacy of his camera and his poetry are, in fact, the dense texture of the contexts of these encounters between friends and lovers from the suburbs to the south. Are the subtexts of the diversity and richness of GLS meeting places: popular, rich, young, old. We went into nightclubs, bars, discos and clubs. We traveled in Lapa, Copacabana, Ipanema, Rocinha, corners, nooks, interiors.
Altogether there are 100 pictures in which Pedro Stephan definitively reaffirmed its huge photographic sensitivity, his commitment to the gay lib and his stubborn desire to offer us a better and fairer world.


April 2007 / Heloisa Buarque de Hollanda


É proibido proibir, dizia Caetano lá pelos idos de 70. Duzentos anos antes, os franceses clamavam por liberdade, igualdade e fraternidade. Hoje, em pleno século XXI, o proibido ainda é perigoso e o liberto carrega uma multiplicidade de significados. Em suas fotos reunidas na projeção Entre Amigos & Amores, Pedro Stephan faz uma penetração explícita para revelar alguns desses perigosos significados.

Mergulhando na noite carioca GLS, com a luz de suas provocativas imagens digitais, ele nos conduz pelo escurinho do interdito. Nos espaços chiques da zona sul, passando ali pelas boates tradicionais, pelo baile gay da Rocinha e chegando ao Buraco da Lacraia, escancaram-se as portas da transgressão. No grupal da dança, no íntimo do cantinho, no secreto dos bastidores, somos flagrados pela diversidade naquele mundo que achávamos ser homo-gêneo.

Descobrimos, então, os senhores de terceira idade, os rapazolas, os jovens bem-sucedidos, as moças e mocinhas elegantes e escrachadas. E, reinando soberana, no camarim da Turma OK, Luana, a guardiã de todos os perigos. Como contraponto, temos, ainda, o amor às claras, corpos seminus no Love Boat em meio à deslumbrante paisagem natural do Rio de Janeiro.

Subexpostas, granuladas, estouradas, desenquadradas, as fotografias de Pedro são transgressoras também na sua forma. Porque, onde nada é proibido, permite-se e provoca-se a experimentação, nos mais variados sentidos. Projetadas em uma sala escura, seqüenciadas e ritmadas, elas adquirem ainda mais força. Aproximam-se, assim, do cinema, ou melhor, do quasi-cinema de Hélio Oiticica.

Para além da sala de exibição de obras de arte, esse trabalho pioneiro, fruto de pesquisa realizada ao longo de vários meses, incorpora, ainda, grande importância como estudo antropológico de uma minoria estigmatizada e alvo de preconceitos e deboches. Dessa forma, contribui também como suporte para uma necessária reflexão social e política sobre o tema.

Andreas Valentin / maio 2007

“It is forbidden to forbid”, sang Caetano Veloso gone there for 70´s. Two hundred years before, the French called for freedom, equality and fraternity. Today, in the XXI century, the forbidden is still dangerous and the released loads a multiplicity of meanings. In his photos collected in the photowork Among Friends & Loves, Pedro Stephan makes an explicit penetration to reveal some of these dangerous meanings.

Plunged into GLS Rio the night with the light of their provocative digital images, he leads us by the dark of the interdict. In the spaces chic south, passing by traditional clubs, gay dance at the Rocinha Slum and arriving at the “Hole of the centipede”night club, fly open up the doors of the transgression. In the group dance, in the depths of the corner, the secret behind the scenes, we are caught by the diversity in that world that we felt was homo-geneous. We find, then, the lords of the elderly, the young man, young successful, stylish young women and girls and the freaks. And reigning sovereign, in the dressing room of the Club OK, Luana, the guardian of all dangers. As a counterpoint, we also see the clear love, half-naked bodies on the “Love Boatt” in the midst of stunning natural landscape of Rio de Janeiro.

Underexposed, grainy, blown, without framming, the photographs of Pedro are also transgressive in its way. Why, where nothing is forbidden, it is allowed and leads to experimentation, in various senses. When the work is projected in a dark room, sequenced and rhythmic, they become even harder. Approach, well, film, or rather Helio Oiticica´s “quasi-cinema”.

Apart from the exhibition room of works of art, this pioneering work, the result of research conducted over several months, incorporates also of great importance as an anthropological study of minority and stigmatized target of prejudice and the butt of jokes. Thus, it also contributes as a necessary support for social and political reflection on the topic.

Andreas Valentin
May 2007
 

Informações sobre a obra


Com entre “Amigos & Amores” Pedro Stephan, fotógrafo especializado na temática homossexual, compõe um painel realístico e atual do cenário GLBTT do Rio de Janeiro, fotografando a pluralidade dentro de um segmento social estigmatizado. A exposição fotográfica multimídia se originou de mais de 100 fotos, de ensaios realizados em diferentes espaços de socialização GLS no Rio.

As imagens percorrem a ampla gama de estilos de vida e comportamento, que algumas vezes passam desapercebidos aos olhos da sociedade. Indo da zona norte à zona sul, dos lugares elitizados aos mais populares e com público de todas as idades, “Entre amigos & Amores” é um convite à reflexão sobre a temática homossexual cada dia mais presente no cotidiano brasileiro.

Para a acadêmica e produtora cultural Heloísa Buarque de Hollanda, que assina um dos textos da exposição, Stephan é pioneiro na fotografia etnográfico-poética urbana brasileira de acento ativista. "Nesta exposição, seu mais recente trabalho, ele faz o mapeamento geopolítico dos espaços de socialização da comunidade homossexual carioca", analisa.

"Este trabalho pioneiro é o resultado de uma pesquisa realizada ao longo de vários meses, tornando-se de grande importância como estudo antropológico de uma minoria estigmatizada e alvo de preconceitos e deboches", comenta o fotógrafo e curador da exposição Andreas Valentim.

“É uma conquista GLBT ter uma exposição que mostra de maneira simpática e realista seus locais de convívio e diversão, além de contribuir para desmistificar o estigma que paira sobre a comunidade homossexual”, constata o fotógrafo, que revela que pretende levar a exposição ainda para outras cidades do Brasil.

Novidades

Pelo fato ser uma “obra em progresso” Stephan continua fotografando os espaços gays do Rio e na edição paulista do “Entre Amigos & Amores” vai incluir ensaios inéditos recentemente realizados sobre o subúrbio e a baixada fluminense. O fotógrafo mostrará imagens desconhecidas do grande publico e mesmo do publico gay, acostumado a ver na mídia apenas o que acontece na badalada zona sul carioca.

Histórico

"O ensaio fotográfico “Entre Amigos e Amores, os espaços gls do Rio” teve sua premiére no FotoRio 2007, um o mais importante festival de foto do Brasil e um dos mais importantes do mundo o evento faz parte do circuito internacional "Festivais da Luz". A exposição foi montada no Espaço Cultural Heloneida Studart. Em seguida participou do Festival Internacional FotoArte 2007 de Brasília, o maior festival da américa latina, a exposição aconteceu no Centro Cultural Renato Russo.

Em fevereiro de 2008 a obra foi apresentada no FestFotoPoa, Festival Internacional de Porto Alegre, ali Stephan foi um dos vinte fotógrafos selecionados entre cem fotógrafos de todo o Brasil, para participar da mostra do evento “Fotograma Livre” que apresenta fotógrafos emergentes.

Em maio do mesmo ano a exposição voltou ao Rio e ficou dois meses em cartaz com sucesso de publico no Centro Cultural da Justiça Federal, um dos mais importantes salões dedicados à fotografia no Rio e no Brasil onde foi recorde de publico e recebeu elogios da critica especializada e apoio da grande imprensa.

Em junho de 2008 “Entre Amigos e Amores” participou da exposição coletiva sob forma de projeção “Urban Spaces”, no Oi Futuro, Rio de Janeiro e New Life Shop, Berlin.

Em setembro de 2008 a exposição ficou dois meses em cartaz no MAC-USP-Ibirapuera de São Paulo, onde Stephan era o único brasileiro a integrar um salão internacional dedicado a essa temática onde estava exposta a Colección Visible, uma das maiores coleções de arte com temática glbt da Europa. Stephan foi recebido com boas criticas pela imprensa paulista e sua exposição teve ótima visitação. Por causa disso foi convidado pelo curador Pablo Peinado a participar com “Entre Amigos e Amores” do "Festival Visible” em Madrid, na Espanha, em 2010."

“Between Friends & Loves”
Gay-Lesbian-Friendly sites of socialization in Rio de Janeiro

New photography essay by photographer and journalist Pedro Stephan about Brazilian homosexual community’s intimacy. The taboo subject, still seen with prejudice by part of society, is practically unexplored by Brazilian photograph. The set of images discloses to the spectator that sexual minorities are composed of people like any other, despite the differences.

Stephan composes a realistic and current portrait of the Brazilian homosexual scene in Rio de Janeiro, capturing the plurality of this specific social segment. The images cover the ample types of life styles and behavior, that sometimes is unknown by the society. Having as scene north, south and central zone of Rio, from the higher to the lower classes, and registering public of all ages, "Between Friends & Lovers" is an invitation to reflect about homosexual culture, each day more common in the Brazilian day.
 

Entrevista com Pedro Stephan

Qual seu objetivo com o trabalho “Entre Amigos & Amores”?
Esta obra tem várias ambições; no plano fotográfico de registrar esses locais e comunidade homossexual, o que nunca foi feito antes na foto brasileira e tem um repertório muito pequeno na fotografia mundial. Mas fazer isso de uma maneira experimental: ousando, recriando, distorcendo as imagens que além de retratar o “real” possam expressar a atmosfera dos locais e os sentimentos das pessoas.

Essa exposição de São Paulo traz alguma novidade?
Sim, o “Entre Amigos” é uma “obra em progresso” continuo fotografando os lugares gays e para essa exposição incluí uns ensaios que fiz no subúrbio e baixada fluminense. Esses lugares tem características muito peculiares e diferenciadas do estilo de vida do publico gay do centro e zona sul cariocas.

Como surgiu esse “nova parte” do seu trabalho?
Como em toda exposição eu tinha um livro de assinaturas, as pessoas deixavam comentários e eu lia. Então alguma delas deixou um comentário bem dramático e engraçado que dizia, “Adorei sua exposição Pedro, mas olha, você se esqueceu de nós do subúrbio e baixada, nós existimos!! Não se esqueça de nós!!!!” (escrito assim com esses trezentos pontos de exclamação rssss). Eu achei o máximo essa declaração e parti pra essa empreitada.

E você havia realmente se esquecido deles?
Não. O que houve foi o seguinte: eu nunca tive nenhum tipo de apoio financeiro ou logístico pra fazer o “Entre Amigos”, foi tudo feito no peito e na raça. Na zona norte não existem boates, elas só acontecem nos subúrbios e na baixada fluminense (as da baixada nem são da cidade do Rio, pois são outros municípios, mas culturalmente são cariocas sim), que estão muito longe. E eu não tinha segurança alguma para mim e pro meu equipamento, nem transporte para me levar e me trazer nas madrugadas. Além disso, apesar de ser conhecido no meio gay por ter escrito e fotografado durante anos para os sites e revistas gays, isso valia mais pra zona sul. Na baixada eu era totalmente desconhecido e não tinha entrada liberada aos locais para fotografar. Com o sucesso da exposição meu nome circulou, as pessoas já sabem quem eu sou e pude ter acesso aos locais. Mas também não é só isso, tem um outro fator importante.

Qual fator importante?
Quando fiz “Entre Amigos & Amores” parti do princípio de que o publico gay do subúrbio e a baixada “ desce” para as boates e bares principalmente do centro do Rio (que estão na versão inicial da obra), porque aqui o ambiente tem um pouquinho mais de liberdade, e eles estão bem longe das suas famílias, do seu ambiente de trabalho e podem ficar á vontade. Os laços familiares no subúrbio são muito fortes, mas infelizmente a opressão familiar e a vigilância também. Com isso muita gente fica dentro do armário e acha melhor vir para o centro e a zona sul do Rio se divertir.

Do ponto de vista pessoal em que essa nova experiência te acrescentou?
Vou citar a famosa frase do Joãozinho trinta, mas ao contrário e recriada: quem gosta de luxo é o pobre, intelectual gosta é daquilo que é popular. Me apaixonei pelo subúrbio. No ultimo dia do FotoRio 2007 eu estava sentado numa mesa cheia de fotógrafos famosos e o papo entre eles era: um que vinha do exterior tinha adorado a Cidade de Deus, e queria morar lá um tempo, um outro, brasileiro, estava louco pra ir num local da África fotografar. Eu pensei “gemtem eu achava que só eu era diferente!”. Depois fomos todos felicíssimos pra um subúrbio longíssimo assistir um show. Mal sabiam eles que eu já estava fotografando e freqüentando aquele lugar faz tempo.

Visita guiada comemora prorrogação de "Entre Amigos & Amores", do fotógrafo Pedro Stephan, no Centro Cultural da Justiça Federal – CCJF

Devido ao sucesso de público, foi prorrogada até 25 de maio, no Centro Cultural da Justiça Federal - CCJF, a exposição multimídia "Entre Amigos & Amores - os espaços de socialização GLS do Rio", com mais de 100 fotografias de Pedro Stephan - especializado na abordagem da temática homossexual.

Para comemorar a prorrogação, o CCJF está programando para o dia 25 de abril (sexta) às 18h30 uma visita guiada, com o fotógrafo contando os bastidores e revelando curiosidades. Stephan passou um ano fotografando 15 espaços de socialização gays nos mais diversos locais do Rio e viveu situações curiosas e diferentes em cada um dos espaços durante a produção do trabalho.

O fotógrafo, que é conhecido também como bom contador de histórias, apelidou o evento carinosamente de visita gayada, fazendo uma alusão bem-humorada com a temática. A visita é uma tradição dentro as artes plásticas, quando num determinado dia o artista faz uma explanação informal sobre seu trabalho para o público presente. "Visto que exposição com essa temática é coisa nova no cenário das artes brasileiras, e provavelmente essa é a primeira visita guiada sobre uma exposição com temática homossexual", comenta o fotógrafo.

Para acomodar ainda melhor o público que vem lotando o salão, a Direção do CCJF disponibilizou puffs na sala de projeção para que as pessoas vejam e revejam as imagens da exposição, que é exibida simultaneamente num telão e num monitor LCD.

"Entre Amigos & Amores" compõe um painel realístico e atual do cenário GLBTT do Rio de Janeiro, fotografando a pluralidade dentro de um segmento social estigmatizado. As imagens percorrem a ampla gama de estilos de vida e comportamento, que algumas vezes passam desapercebidos aos olhos da sociedade. Indo da zona norte à zona sul, dos lugares elitizados aos mais populares e com público de todas as idades, o trabalho é um convite à reflexão sobre a temática homossexual cada dia mais presente no cotidiano brasileiro.
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